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Homenagem a Thomaz Farkas

3 min readMar 2, 2021

Por André Teixeira

A fotografia foi apresentada ao mundo como uma reprodução objetiva, “pura”, do real. Seu caráter técnico lhe conferia um valor de documento que pinturas, esculturas e outras obras que dependiam da mão humana, por mais realistas que fossem, não tinham. Em pouco tempo, no entanto, a inquietação dos primeiros fotógrafos mudou esse panorama: mais do que reproduzir, ela podia e queria interpretar, influenciar, até mesmo subverter a realidade. A imagem no espelho, mais do que um reflexo, produzia reflexões.

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Fotos de Thomaz Farkas — Acervo IMS

Tínhamos, literalmente impressa numa folha de papel, uma contradição em termos: um documento que permitia interpretações subjetivas. O mundo não era apenas visto; era, também, sentido, reinterpretado. O instantâneo se tornava duradouro, e a fotografia, arte.

A disseminação da fotografia digital modificou esse cenário. Passamos a produzir imagens compulsivamente: só em 2017, segundo o fotógrafo e professor Millard Schisler, a humanidade fez um trilhão de cliques — 85% com celulares. Tudo é registrado, a vida só acontece se transformada em pixels publicados nas redes sociais.

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Nossa capacidade de absorver e interpretar imagens é limitada. Soterrados por essa avalanche de registros banais do cotidiano, trabalhos consistentes, analíticos, até mesmo provocativos, perdem visibilidade. A fotografia é, assim, novamente relegada ao papel de mero documento, de comprovação do real.

Nada contra, evidentemente, a imagem digital, muito menos sua democratização. Acreditamos, porém, que é hora de revalorizar a fotografia que, além de despertar sentimentos, questões e subjetividades, tenha a qualidade como pilar. Viveremos um ano em que o mundo, após a pandemia, encontrará novos caminhos, que em muitos casos exigirão a redescoberta de bases sólidas, tradicionais. A fotografia, espelho deste mundo, deve seguir a mesma trajetória.

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A escolha de Thomas Farkas como homenageado do PEF PARATY EM FOCO 2021 se enquadra nesse conceito. Pioneiro da moderna fotografia brasileira, professor, produtor e diretor de cinema, Farkas foi ao mesmo tempo revolucionário e conservador: a inovação apresentada em sua obra sempre se apoiou numa consistente formação técnica e cultural. Simboliza, assim, essa busca por novos rumos, apoiada na qualidade e reflexão. É o que propomos para a 17ª. edição do nosso festival, neste 2021 em que também lembramos os 10 anos da morte desse ícone da Fotografia brasileira.

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